O caminhoneiro José Altair Biscaia, 43 anos, que gravou vídeo de dentro de caminhão soterrado após deslizamento em 28 de novembro no Paraná, postou nesta terça-feira (6) um agradecimento aos bombeiros e socorristas que o tiraram da lama na BR-376, no Paraná.

“Agradecimento aos bombeiros que me tiraram daquele buraco lá, em especial ao bombeiro voluntário Arnoldo Júnior que me escutou, escutou as batidas de celular no teto do caminhão”, disse nesta terça.

No dia do incidente, Biscaia gravou imagens de dentro do caminhão, enquanto ainda estava soterrado. Emocionado ainda dentro do veículo, o caminhoneiro descreveu o momento em que ficou preso. “Estou vivo, mas estou no meio da terra, no cantinho do que sobrou do caminhão”, disse na ocasião.

No vídeo, o caminhoneiro relatava estar ferido, com alguns machucados e dores. Ele foi resgatado ainda na noite de segunda-feira (28) e levado ao Hospital São José de Joinville (SC). José Altais recebeu alta na manhã do dia seguinte.

A BR-376, principal acesso entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, segue interditada por tempo indeterminado. A concessionária Arteris Litoral Sul, responsável pela administração do trecho, deve divulgar um balanço da operação de liberação da rodovia nesta terça-feira (6). 

Sobreviventes

Sobreviventes do deslizamento na BR-376, entre Curitiba e Santa Catarina, relataram momentos de desespero durante o incidenteDois corpos foram resgatados. O trabalho de buscas foi encerrado. Ao todo, 14 pessoas estiveram envolvidas. Duas morreram e seis foram resgatadas com vida. Seis veículos pesados e três veículos leves foram atingidos pelo deslizamento. 

Ocupante do veículo Virtus preto que foi atingido pelo deslizamento, a fisioterapeuta Letícia da Cruz dos Santos, moradora de Paranaguá (PR), estava com os pais, de 71 e 72 anos, respectivamente, e com um filho de 4 anos, quanto teve o carro arrastado na BR-376, no sentido Curitiba. Ela abandonou o veículo perto da área do desmoronamento e conta que todos os ocupantes estão ilesos, apenas com escoriações leves.

“Nosso carro foi um dos últimos a ser pego no deslizamento. Um tronco de árvore que caiu empurrou nosso carro para cima e nós batemos em um caminhão que vinha do outro lado. Só tivemos escoriações. Eu, minha mãe e meu pai, de 71 e 72 anos, e meu filho de quatro anos. A gente conseguiu sair pela porta do motorista, com o carro todo coberto de areia. Um ônibus da Viação Garcia acolheu a gente e o motorista deixou a gente entrar. Estávamos todos molhados, ensopados, mas viemos para Curitiba, para casa de parentes”, contou em entrevista ao Portal da Band.  

"Só vi morro de areia que ficou e dois carros soterrados e um caminhão tombado. Na hora que caiu a gente pegou a borda da estrada, a areia entrou e levantou. Nosso carro foi um dos últimos do deslizamento. Além da terra, caiu árvore e isso foi levantando o carro. Eu vim descalça, sem documento, sem roupas. Vou comprar roupas para os meus pais agora. Chegamos às duas da manhã. Meu celular ficou no carro, junto com todas as nossas coisas, só consegui resgatar o celular do pai”, diz.

O carro da família fazia parte do comboio que, minutos antes, estava parado no bloqueio nas imediações do posto da PRF (Polícia Rodoviária Federal), e havia sido liberado a seguir, depois das 18h de segunda (28). 

A rodovia teve um primeiro momento de interdição após uma queda de barreira, às 16 horas, e foi liberada às 18 horas. O deslizamento mais grave aconteceu às 19h15, quando havia acúmulo de veículos na via por causa do congestionamento referente ao primeiro bloqueio. 

A PRF afirma que não foi responsável pela liberação do tráfego e que a concessionária Arteris Litoral Sul é quem deve responder por isso (Leia a nota abaixo). 

A concessionária enviou nota ao Portal da Band afirmando que “neste momento, qualquer afirmação sobre as causas do deslizamento seria prematura, pois não contaria com o embasamento técnico necessário”

“Só segurei no volante”

Ao jornalista Leonardo Gomes, da Rádio BandNews FM Curitiba, o caminhoneiro Ed Carlos contou que trabalha na estrada há 33 anos e que nunca viu um deslizamento dessa proporção em rodovias. 

“Estava parado, o caminhãp desligado, fazia dez minutos. De repente, olhei assim e começou a descer barranco, árvore e já me jogou para o outro lado da pista. E chovendo. Nem vi a proporção. Desci correndo, pulei, nem vi. A água pela canela. Voltei no caminhão rapidinho, estralando tudo o barranco. Só peguei minha bolsinha e saí correndo. Peguei uma carona, pois não pega celular ali, e fui até o posto”, disse.  

“É muito rápido. Não tem nem como explicar direito. Só olhei estralando tudo e só segurei no volante. E já me jogou do outro lado. Tinham dois carros na minha frente e aqueles eu não sei”, lamenta.